Em painel sobre conjuntura, apresentado durante o Congresso do Sintraf-Ride, realizado em conjunto com Congresso do Sindicato dos Bancários de Brasília, neste sábado (22), o professor e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Eduardo Fagnani, afirmou que os sindicatos têm papel fundamental na discussão das pautas coletivas da população, numa referência às inúmeras manifestações que ocorrem em todo o país, incluindo o Distrito Federal, nas últimas semanas.
Autor do livro Debates Contemporâneos - Economia Social e do Trabalho, juntamente com Marcio Pochmann, Fagnani disse que existe uma crise de representação das entidades tradicionais em relação à juventude. Por isso, segundo ele, há um sentimento de indignação geral. “Apartidário, esse movimento é difuso. Não tem organização. As pessoas querem tudo. É preciso estar atento a esse momento de captura”, observou.
Doutor em Ciência Econômica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Eduardo Fagnani revelou que as pessoas querem cidadania plena. “A questão da mobilidade urbana e da saúde, por exemplo, não são resolvidas pelos prefeitos por falta de competência real. É preciso discutir essas questões dentro de uma agenda de desenvolvimento do país”.
Na opinião do professor, é preciso mais Estado e governo e menos mercado. “Os governos estaduais privatizaram o transporte público. À exceção do Rio de Janeiro, não conheço nenhuma cidade no mundo que privatizou o metrô”.
Pacto federativo
Para resolver e equacionar todos esses problemas, é essencial um pacto federativo, com cooperação entre todos os níveis de governo. “Essas desonerações do transporte público que estão sendo feitas afetam as contas das cidades, dos estados e do país. É preciso estabelecer formas compartilhadas de resolver as demandas”, frisou.
Na opinião de Eduardo Fagnani, há uma fragmentação generalizada que precisa ser abolida. “Há uma fragmentação do campo político hoje. Quem trabalha com educação só pensa em educação. E assim com a habitação, o saneamento e outras áreas”.
Citando pesquisa realizada entre os manifestantes de São Paulo, Eduardo disse que somente 51% apoiam a democracia em SP e outros 49% não sabem e/ou não apoiam. Ainda de acordo com o levantamento, a juventude quer mudanças profundas na política e na economia.
Apesar da insatisfação dos manifestantes, o professor reforçou que o Brasil saiu da terceira pior distribuição de renda do planeta para a 15ª posição. “Para reverter essa lógica perversa, precisamos criar mais empregos e fortalecer a indústria. Também precisamos discutir o nosso sistema tributário (PEC 233/08)”, destacou ele, ao acrescentar que as reformas tributária e agrária também são essenciais para o país.
Segundo Eduardo Fagnani, muitas dessas agendas precisam avançar no parlamento. “Pode ser uma oportunidade para que a gente recoloque nossa agenda no centro dos debates”, salientou.
Ainda sobre a recente onda de manifestações que já ocorrem em mais de 120 cidades, o professor afirmou que a direita quer capitalizar em cima desse movimento.
Ao final da apresentação de Eduardo Fagnani, bancários, cooperativários, financiários, lotéricos e demais trabalhadores do ramo financeiro fizeram perguntas e discutiram o assunto com o especialista.
Fonte: Seeb Brasília